segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ARTIGO.


Observe bem os dois quadrinhos, extraídos de diferentes histórias:



No primeiro quadrinho o substantivo fera está precedido de uma. Trata-se de uma fera qualquer, indeterminada, indefinida. No segundo, fera está precedido da palavra a. Trata-se de uma fera determinada, definida: aquela que esta na jaula apresentada no desenho.

As palavras uma e a são artigos.
Artigo é a palavra que se emprefa antes de um substantivo para definir ou indefinir esse substantivo. São artigos: o, a, os, as, uma, umas, um, uns.
Artigo:

O cachorro correu atrás de um homem.
·        Definido: chamados de artigo o, a, os, as, os quais se antepõem a substantivos, tendo valor semântico demonstrativo e funcionando também como adjunto (modificador);
·        Indefinidos: são os chamados um, uma, uns, umas, que se assemelham aos artigos definidos por também funcionarem como adjunto de substantivo, mas diferem-se pela origem, tonicidade, comportamento no discurso, valor semântico e papéis gramaticais.

Sobre as diferenças:
·        Pela origem, pois o, a, os, as se prendem a artigos do latim, enquanto os artigos indefinidos um, uma, uns, umas são um emprego especial da generalização do número um;




·        Pelo valor semântico, os artigos definidos identificam o objeto designado delimitando-o. É dispensável o uso deste quando, antes do objeto, há um outro identificador adnominal (logo, a utilização da construção “o meu livro” é redundante, pois a definição do objeto é marcada duas vezes).

O per- é um prefixo”, “o andar daquela moça é bonito”, “o este é dissílabo”.
ü     Outra função do artigo é o da substantivação, colocando-se, em qualquer unidade lingüística, um artigo anteriormente.

Os dois homens”
Maria e a Maria
ü     O artigo usado junto com um quantificador tem função individuadora (primeiro exemplo) e, aplicado a um nome próprio, pode exercer função estilística (segundo exemplo).

O artista/a artista”, “o lápis/os lápis”
ü     Junto de nome não marcado por gênero e número, pode o artigo ser responsável por essas marcações.

Emprego do artigo definido

O Antônio comunicou-se com João.”
a)     Junto de nomes próprios, denota familiaridade (podendo o artigo ser omitido);

A Suécia”, “o Atlântico”, “o Brasil”
b)     Costuma aparecer ao lado de certos nomes próprios geográficos;
*Curiosidade: no Brasil, os Estados que dispensam o uso do artigo são: Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo, Pernambuco e Sergipe.
(denominações geográficas com nomes ou adjetivos omite-se o artigo: São Paulo, Belo Horizonte.)

“Isabel, a Redentora”, “D. Manuel, o venturoso”
c)      Aparece em alcunhas e cognomes;

O historiador Tito Lívio”
d)     Em alguns títulos;
(é omitido em ordinais pospostos ao título: Pedro I, Henrique VIII)

“Vossa Alteza”, “Vossa Majestade”, “Dom Quixote”, “Frei Caneca”, “Lord...”, “Sir...”, “Madame...”
e)     São omitidos em títulos como os exemplos acima;

“Os Lusíadas”, “A Tempestade”
f)        Usa-se o artigo em nomes de trabalhos literários e artísticos (se o artigo pertence ao título, terá de ser escrito, obrigatoriamente, com letra maiúscula)
(mesmo quando o nome da obra vier precedido de preposição, conserva-se o artigo: “No caso de Os Lusíadas”)

“Estou em casa”, “passei por casa”, “todos de casa”, “fui a casa”
g)     São omitidos antes da palavra casa designando residência ou família;
(quando seguidos de nome do possuidor ou de um adjetivo ou expressão adjetiva, pode o vocábulo casa acompanhar-se de artigo: “Da casa de meus pais”)
*No exemplo “fui a casa”, o artigo é omitido, ou seja, só há a preposição a, pois a palavra casa não é qualificada.

 “Perguntou o mestre-escola afoitamente à sentinela do paço se o representante nacional, morgado da Agra, estava em palácio.”
h)      Omite-se o artigo com a palavra palácio, quando desacompanhada de modificador;

“Maçãs de poucos cruzeiros o quilo.”
i)        Aparece junto ao termo denotador da unidade quando de expressa o valor das coisas (aqui o artigo assume o valor de cada);

Na primavera há flores em abundância. ‘Em uma tarde do estio, à hora incerta e saudosa...’”
j)        Aparecem nas designações de tempo com os nomes das estações do ano;
*”Numa manhã de primavera” (omite-se o artigo, pois estação vem precedida de de, significando próprio de)
*”Meu irmão faz anos em março” (aqui omite-se também, pois a expressão temporal contém nome de mês)

“Era perto da uma hora/Era perto de uma hora
k)      Nas indicações de tempo com uma hora, expressando a primeira hora, a utilização do artigo é facultativa;

Meu livro/O meu livro”
l)        É, na maioria dos casos, de emprego facultativo junto a possessivos em referência a nome expresso;
*É obrigatório o uso do artigo, quando o possessivo é usado sem substantivo: “Bonita casa era a minha”;
*Dispensa-se em expressões que indiquem “os bens próprios de alguém”, “qualidades naturais”, no sentido de “alguns” e em expressões que indiquem atos usuais. Tome como base os exemplos a seguir: “de meu”, “de seu natural”, “Os Lusíadas têm suas dificuldades de interpretação”, “às oito toma seu café”.

“O homem mais virtuoso do lugar”
“O homem o mais virtuoso do lugar” (errado)
m)   Não se repete o artigo em frases como a citada;
*É preciso saber distinguir o uso do conjunto o mais quando é para enfatizar o substantivo determinado por adjetivo como na frase: “Seu rosto de leite e rosas, de um contorno o mais perfeito”

“Traz a cabeça embranquiçada pelas preocupações. Tem o rosto sereno, mas as mãos trêmulas.”
n)      Junto às designações de partes do corpo e nomes de parentesco, os artigos denotam posse;

“O coração de todo o ser humano foi concebido para ter piedade”
o)     A palavra todo, no singular, pode vir ou não seguida de artigo, com os significados de inteiro, total e cada;
*O conjunto o todo denota totalidade, inteireza.
(ou também pode aparecer com o sentido de qualquer: “O coração de todo o ser humano foi concebido para ter piedade”)
*Em designações geográficas, o conjunto todo o ou a palavra todo entrará como correta se a região pedir ou não artigo: “Todo o Brasil”, “Todo Portugal”
*Usa-se em algumas expressões como: todo o gênero, todo o mundo, a toda a parte, em toda a parte, a toda a pressa, em todo o caso, etc.
*No plural, todos não dispensa artigo (salvo se vier se vier acompanhado de palavra que exclua este determinante: “Todas as famílias”, “todas estas pessoas”
*Se exprimimos a totalidade numérica por numeral precedido do elemento reforçativo todos, aparecerá artigo se o substantivo vier expresso: “Todos os dois romances”, “todas as seis respostas”
*Se omitirmos o substantivo, não haverá lugar para o artigo: “Fizeram-me seis perguntas. Respondi, acertadamente, a todas seis.”

“Ficou entre a vida e a morte
p)     Aparece o artigo nas enumerações onde há contraste ou ênfase;

“Velhice – Amigo, diz-me um amigo, sabe que a boa idade é a última idade”
q)     Dispensa-se o artigo nos vocativos, na maioria das exclamações e nas datas que apomos aos escritores;

“Isto cheira a jasmim”, “isto sabe a vinho”
r)       Costuma-se dispensar o artigo depois de cheirar a, saber a (= ter o gosto de) e expressões sinônimas;

“Tenho ouvido os quinhentistas a la moda, e os galiparlas”
s)      Em frases feitas, aparece o artigo definido na sua antiga forma lo, La;
(outras expressões: a La fé, a La par, a La mar, el rei, etc)

Emprego do artigo indefinido

“Estampava no rosto o sorriso, um sorriso de criança”
a)     Usa-se o indefinido para aclarar melhor as características de um substantivo enunciado anteriormente com artigo definido;

“O instrumento é de uma precisão admirável!”, “Ele é um herói/Ele é herói” (menos enfática), “Falou de uma maneira, que pôs medo nos corações.”
b)     Procedente de sua função classificadora, um pode adquiri classificação enfática, chegando até a vir acompanhado de oração com que de valor consecutivo, como se no contexto houvesse um tal;

“Esperou uma meia hora”, “terá uns vinte anos de idade”
c)      Antes de numeral denota aproximação;

“Depois de certa hora não o encontramos em casa” (e não uma certa hora)

d)     Antes de pronome de sentido indefinido (certo, tal, outro, etc.), dispensa-se o artigo indefinido, salvo quando o exigir a ênfase;
(Esta dispensa pode ocorrer também antes do advérbio tão e certas locuções adverbiais (com voz surda), antes do substantivo que funciona como predicativo do verbo ser (Você é homem de bem).

Um irmão ia ao teatro e outro ao cinema”

e)     Um ocorre como correlativo de outro em sentido distributivo;

“Fez um como discurso. Proferiu uma como prática”

f)        Note-se a expressão um como, empregada no sentido de “uma coisa como”, “um ser como”, “uma espécie de”, onde um concorda com o substantivo seguinte;



“Não digas desta água não beberei”

O artigo partitivo: A língua portuguesa de outros tempos empregava do, da, dos, das, junto a nomes concretos para indicar que os mesmos nomes eram apenas considerados nas suas partes ou numa quantidade ou valor indeterminado, indefinido. Modernamente ele foi praticamente excluído do uso geral, salvo as expressões com os verbos comer e beber.

Crase:

“Assisti à peça teatral.”            “Eu vi a peça.”
“Tu tens amor à pátria?”          “Tu tens amor a Deus?”
“Ela irá à Bahia.”                      “Eu irei a Manaus.”

Crase = contração de preposição + artigo (à)

Consequências:
a)     De ser preposição: só termo preposicionado admite crase, isto é:
·        Objeto indireto;
·        Complemento nominal;
·        Adjunto adverbial.

b)     De ser artigo definido “a”:
·        A palavra há de ser feminina;
·        A palavra há de admitir artigo;
·        A palavra há de ser definida.

“Refiro-me àquele moço.”
a)     Poderá haver crase de “a” preposição + “a” dos demonstrativos: aquele, aquela, aquilo, aqueloutro.

“Vou à França.”                                 (“A França é livre.”)
“Eu irei à Bahia.”                               (“A Bahia tem muita gente.”)
“Vou a Curitiba.”                                (“Curitiba é bonita.”)
“Vou à encantadora Campinas.”
b)     Nomes geográficos: se admitirem artigo “a” utilizamos a crase. Porém, se o nome (admitindo artigo ou não) estiver qualificado, a crase é necessária.

“Voltarei à casa de seu pai.”
“Voltarei cedo a casa.”
c)     Se o nome “casa” vier seguida de qualificativo utiliza-se a crase.

“A tripulação desceu a terra.”
“Ele chegou à terra natal.”
d)     Se a palavra “terra” indicar linguagem náutica usa-se a crase. Caso contrário, o sinal gráfico é dispensado.

“Estarei aí à uma hora.”
e)     Com a palavra “hora” sempre haverá crase.

“Não vejo bem a distância.”
“Fique à distância de cinco metros.”
f)       Quando a distância é indeterminada, não se utiliza crase. Se determinada, comporta a crase.

“Falarei a você.”
g)     Pronome de tratamento “você” não se usa crase, exceto com “dona”, “senhora”, “senhorita”.

“Darei o presente à Maria.”
“Darei o presente a Maria.”
“Deu um retrato à bondosa Vera.”
h)     Aqui o uso da crase é opcional, porém aconselha-se utilizar principalmente quando indicar mais intimidade, como parentesco. Quando um qualificativo preceder o nome, é obrigatória a utilização de crase.

“Fui a praça.”
“Fui à praça.”
i)       Quando “a” indicar “até a”, a utilização é livre.

“Ele tem estilo à Eça.”
“Ele canta à Roberto Carlos.”
j)        Quando subentender “moda”, “maneira” usa-se crase.

“Tivemos uma conversa face a face.”
“Tivemos aula a partir das sete horas.”
k)     Em locuções formadas por repetições de palavras, não se usa crase. Também é dispensável o acento grave diante de verbo.

CURIOSIDADE: 

O dó ou A dó ?


Temos aqui duas palavras, porém poucas pessoas sabem usá-las. Vejamos:

O dó = sentimento por álguém
Ex.: Tenho o dó das pessas que passam fome.

A dó = nota musical.
Ex.: Dó, ré, mi....


> Caso alguém lhe diga que esta com uma dó de você despense-o (a), isso não é um sentimento e sim uma nota musucal.


 Para que você possa entender melhor este assunto, assista:



}Referências:
SILVA. Ségio Nogueira Duarte da. Português fácil com o professor Sérgio Nogueira. Barueri, SP: Gold Editora, 2007. (Série soltando a língua; 7)
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Potuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. 
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Ed. Nacional 2005. 
http://recantodasletras.uol.com.br/gramatica/
}